MEU FILHO TEM MEDO DE TUDO!

Por Maria Cavalcante de Lima em 30/03/2022

O medo é uma emoção natural do ser humano, um aliado à sobrevivência. Não há evolução sem algo a temer. Medo é a emoção desencadeada por um estímulo que tem valor de perigo para o organismo. O medo varia com a cultura, com as crenças e com a idade.

 

Assim, na criança, no início da sua infância, o que a assusta são barulhos ou luzes muito fortes. A partir dos dois anos, é freqüente a criança começar a temer ser abandonada pelos pais e qualquer separação pode representar isto. Também nesta fase se verifica um aumento do medo dos animais, que costuma perdurar até por volta dos quatro anos. Perto dos três anos, a imaginação assume um papel preponderante e aí chegam o medo do escuro, dos monstros, dos fantasmas, dos ladrões, entre outros. Aumenta na hora de dormir, momento em que a criança se sente “desprotegida”. Aos seis anos, ela atinge uma fase de desenvolvimento que permite encarar a morte como algo irreversível, perdendo o seu lado fantasioso e assumindo uma vertente mais concreta, daí o medo que os pais morram. Ela começa também a dar atenção para outros pontos, principalmente na escola, onde podem surgir receios ligados a esta nova etapa da vida e o medo de se expor.

 

Quando este medo é demasiado pode ser fobia, que é o “pavor de um sujeito em relação a um objeto, um ser vivo ou uma situação, a qual não apresenta nenhum perigo real”.

 

Nos tempos atuais os medos são mais evidentes porque os temores ligados ao desenvolvimento (escuro, monstros, altura, ficar sozinho etc,) juntam-se ao fato de haver uma tensão geral e a sociedade estar mais agressiva. Segundo o psicólogo bielo-russo Lev Vygoststski, nós somos frutos do meio. Assim, o psiquiatra Eduardo F. Santos sentencia: “as crianças estão vivendo um reflexo do medo dos adultos, que o transmitem num conjunto de restrições”. Em tempos atuais, a pandemia e a ameaça de guerra mundial são reais exemplos.

 

Crianças estimuladas a serem autoconfiantes desde cedo são mais curiosas, mais abertas ao aprendizado, mais sociáveis e mais propensas a serem felizes. Mas antes de tudo, precisam ser e se sentirem livres. 

 

Pais “paranóicos” geram filhos fóbicos. Assim nas expressões do dia-a-dia costumam dizer: “não faça!”, “Olha isso!”, “Cuidado!” Com isto, vão gerando crianças  com medo de tudo. Isto não quer dizer deixarem os filhos fazerem o que bem entendem porque os limites também educam e estruturam a personalidade.

 

Devido à dificuldade de a criança verbalizar seus medos, a Psicomotricidade Relacional tem contribuído, utilizando o brincar, ao permitir que ela vivencie suas fantasias reais trazidas para o simbólico no setting terapêutico. Em depoimento de pais em processo terapêutico, referindo-se aos resultados do tratamento com esta ferramenta, fizeram os seguintes comentários: “a minha filha tinha medo de ir para a escola. Com o tratamento, hoje é uma criança independente, segura dentro do seu espaço, sem ter medo de se relacionar!”.

 

 Medo não é “medinho”. Nunca diga que é “frescura”, “abrace o seu filho, diga quanto o ama e que o medo vai passar”.  Também os “tratamentos de choque” são contra-indicados, como colocar uma criança na água para perder o medo, dizendo “hoje você vai perder este medo!”. A intenção é boa mas aumenta o temor.

 

As mudanças devem ser incentivadas e não cobradas. É importante fazer uma aproximação progressiva, conversando com a criança e ajudando-a a interpretar e lidar mais racionalmente com a situação. É preciso ter paciência. Os resultados são progressivos.

 

A Psicomotricidade Relacional é opção terapêutica de resultados eficazes, uma vez que tem a natureza não verbal, pois o corpo mente menos que as palavras.

 

Maria Cavalcante de Lima é psicóloga (CRP 18/02539) e Psicomotricista Relacional.

Veja outras notícias